Fragmentos
PACTOS CÓSMICOS
[...]
-Quando souber, lerá coisas que sequer poderia imaginar.
Por hora, sossegue seu espírito, e aprenda o que sem pudor e falsas histórias
lhe passo. Creio numa grande missão nessa Terra. Uma missão de despertamento,
de trazer à luz a Verdade. E não estou só nessa Missão, acredite nisso.
- Que missão?
- Algo profuso, um emaranhado de informações e
respostas. Como se cada um de nós tivéssemos uma porção de entendimento, e essa
porção junto a outra, e a outra, e mais outra formasse a Verdade.
- Quem te diz essas coisas padre Bruys?
- Eu não sei explicar filho, mas são coisas que estão
claras diante de mim, e não consigo compreender como muitos não as enxergam.
- O senhor é muito misterioso. – riu o rapaz voltando a caminhar sendo
seguido pelo padre.
Já ao anoitecer, finalmente chegaram ao destino. Uma
pequena cidadela chamada Bizanet. Um senhor já muito idoso seguido de uma moça,
aparentando uns 17 anos os aguardava. Era Alícia, uma menina estranha aos
vizinhos. Silenciosa e introspectiva, apenas procurava fazer seus deveres,
evitando que de si eclodisse tantos mistérios que os demais buscavam descobrir.
O idoso era Beni, um adepto do paulicianismo, doutrina que mesmo sendo em
certos pontos diferente dos ideais de Bruys, muito haviam em comum. Ele
entregou por instantes seu cajado para a neta Alícia e abraçou o jovem padre e
seu companheiro de forma amistosa, como era comum fazer.
- Sejam bem vindos, homens da fé! Entrem e jantem
conosco.
- Estou de jejum caro homem, mas o rapaz precisa de
alimento. Já é desnutrido o bastante. – riu Pedro deixando Andrey entrar
primeiro. O rapaz cumprimentou Alícia que silente baixou a fronte sequer
respondendo a ele. Já os quatro reunidos à mesa, a conversa tomava conta do
recinto. Pedro, sempre ansioso desejava expor seus ideais quase impedindo
imperceptivelmente os outros de opinarem em algum instante:
- É o que eu tento descrever. Essas visões, do correto
e do inviável! Vejam comigo se estou sendo coerente. O batismo que foi imposto
pelo nosso Senhor. Batismo significa “arrepender-se dos pecados cometidos”.
Logo, após cometido pecados conscientes devemos nos “arrepender”... Que sentido
há em uma criança ser batizada ao nascer, haja vista que jamais conheceu ou
teve consciência de seu pecado?
- Ela é destituída de um erro que nunca cometeu.
- Pior! Lhe causam um dano horrível! O de não ter a
oportunidade de tal feito. Afinal, batizada uma vez, não o fará novamente...
Isso é heresia!
- És um homem tocado por Deus para essa missão, a de
passar a palavra e explicar exatamente como Jesus quis explicar. Ele se foi,
mas deixou homens iluminados como o senhor para dar continuidade ao seu divino
trabalho padre Bruys.
- Obrigada rapaz, mas como eu disse, sou uma peça de
um imenso quebra cabeças, e basta uma dessas peças rejeitar sua missão, e a
tela estará comprometida.
Nesse instante, como se algo a incomodasse, Alícia
deixou repentinamente a mesa saindo do local. Os três se entreolharam, então
Beny disse entristecido.
- Minha neta é às vezes um pouco ofensiva. Mas nunca
sabemos o porquê. Ela precisa de muita reza padre.
- Ou precisa aceitar a missão meu caro senhor. Rapaz,
faça companhia a garota, creio que ela se abrirá à você.
- Mas padre... Eu...
- Vá Andrey, faça o que estou lhe dizendo. – insistiu Bruys gesticulando para que o
rapaz se retirasse. Andrey sem saber muito o que fazer obedeceu. Seguiu os
passos da garota que já se encontrava fora da casa simples do avô. A brisa da
noite fria parecia deixar um abismo ainda maior entre eles. Andrey se aproximou
devagar e mesmo tendo ciência de sua presença, Alícia fez que não o percebia.
- Atrapalho?
Alícia sequer respondeu novamente, apenas olhou-o
discretamente e o deixou seguindo em frente rumo ao campo aberto. A escuridão
era amenizada pela imensa Lua cheia. Mesmo assim, era um tanto dificultoso
andar por ali. Para ela a facilidade deixava ainda mais rapidamente o rapaz
para trás que tentava com custo alcançá-la.
- Por favor! Eu só quero conversar! - insistia enquanto a seguia. Mas Alícia não
cessava o ritmo. Então finalmente voltou-se para ele e disse arredia:
- O que tenho para conversar com você?
- Nada de importante, apenas conversa. Nos conhecer.
Afinal ficarei alguns meses em sua casa com o Padre Bruys, acho que é
importante ao menos nos conhecermos.
- Alícia, prazer. – respondeu prontamente e de forma
indiferente.
- Você é sempre assim?
- Assim como?
- Distante das pessoas...? - nesse instante um flash repentino de luz
azul cruzou o céu fazendo o rapaz cair de costas na grama. Porém Alícia,
permaneceu exatamente como estava. Apenas lentamente seguiu os olhos ao céu e
disse após alguns instantes de silêncio.
- Foi a primeira pessoa que também viu o que vejo
desde os 5 anos de idade!
- O que foi isso?! É o apocalipse não é? - questionou com tremor na voz.
- Claro que não... Você jamais compreenderia.
- Você também? Porque não me explica? Talvez eu
compreenda. – se levantava ainda trêmulo
pela visão assustadora no céu.
- Primeiro vou tentar entender o porquê de ter visto a
mesma visão que eu, depois conversamos. Por hora, vou me recolher, tenha uma
boa noite Andrey. – tomou o caminho de
volta. O rapaz amedrontado rapidamente tomou a frente de Alícia chegando bem
antes que ela a casa de Beny. A garota riu discretamente dele, e calmamente
caminhou em direção a sua casa. Entretanto, não com a mesma calma, Andrey
deitou-se na estreita cama forjada no chão. Virou-se para a parede, e tentando
esquecer-se daquela visão surreal, buscava adormecer. Bruys ajoelhado orava, e
o mantra de suas palavras finalmente fizeram com que o rapaz caísse em sono
profundo.
Porém, a paz desapareceu num instante quando já nas
profundezas dos seus sonhos, pode se deparar com a imagem da luz azul anil
riscando o mesmo céu. Mas no sonho, ele não temeu, correu imediata e
ansiosamente até encontrar por fim, onde terminava o risco de luz. Havia uma
chama azul incandescente há metros dele. Algo estranho em formato de cápsula,
algo jamais visto em tempos como aqueles. Uma cápsula de aproximadamente 30
metros por 5metros, se encontrava diante de seus olhos assustados, entretanto,
encantados com a beleza daquele objeto não identificado. Aos poucos, percebeu
que dessa estranha cápsula oval, abria-se um compartimento. Deste, uma luz tão
intensa quanto a que riscara o céu surgia. Uma paz foi trazida ao seu espírito
confuso, então eis que um ser surgiu fitando-o de forma amigável. Era um ser
azul translúcido, rosto triangular e olhos imensos. Corpo fino e longo, extremamente
alto onde Andrey alcançava não mais que o joelho do ser. Então, este, gentilmente
se curvou para alcançar seus pequenos e vidrados olhos humanos.
- Olá ser humano. Sou dharminiano, do planeta Dharmim,
e vim para me apresentar.
Andrey sorriu ao sentir a energia casta e pacífica do
ser, respondendo também gentilmente:
- Sou Andrey, sou aprendiz do mestre Bruys. – o ser
extraterrestre sorriu desviando o olhar angelical para as estrelas.
- Não há mestres em seu meio pequeno ser. O último foi
o Cristo. E não mais reside aqui. Deixou com alguns a centelha do conhecimento,
mas há muitos, muitos que confundem os que trazem tal centelha. E é por isso
que estou aqui.
- Não compreendo. Você é um anjo?
- Não, sou outra forma de ser, mas sirvo ao mesmo
mestre cósmico. Seu cristo é meu cristo. Ele deixou muitos ensinamentos, acerca
da evolução de sua espécie, há muitos de mim perdidos aqui, e preciso que nos
ajude, pois faz parte dessa missão.
- Que missão?
- Missão Dharmim-Gaia. É uma longa história, mas acredite,
se cumprir sua missão, outros cumprirão também, um depende do outro, somos
peças de um grande quebra cabeças, sendo que se uma dessas peças rejeitar sua
missão, a tela deixará de existir.
... Num lapso de instante o rapaz despertou, era padre
Pedro balançando seus ombros, reclamando que já se passava das 7 horas da
manhã.
- Perdeu minha pregação rapaz! Como quer ser padre
assim?
- Perdoe-me senhor! Eu estava sonhando muito
profundamente.
- Sem desculpas, todos sonham, nem por isso deixam de
acordar na hora que necessitam. Nunca mais faça isso.
Ao transitar pelo pequeno recinto dos três cômodos da
casa de Beny, Andrey cruzou com Alícia. Então com o olhar tentou detê-la...
- Preciso contar-lhe uma coisa.
- Não! Deixe-me em paz. – esquivou-se dele. Mas o rapaz a seguiu até
um cômodo vazio, onde apenas a luz discreta por detrás da cortina fina
ultrapassava, um silêncio repentino se fez entre eles. Então ao senti-la mais
tranquila disse pela segunda vez:
- Por favor, eu preciso que me ajude à entender.
- Eu não sei do que está falando Andrey! Por que não
me esquece e para de perseguir?
- Por que você vê essas coisas desde os 5 anos! Eu
acho que sabe muito mais do que eu, apenas me ajude a compreender o que foi
aquilo.
- Foi o que você viu! Uma luz azul, como um anjo
riscando o céu, nada mais.
- Mentira! Ele apareceu em sonho pra mim. – a garota o
fitou dessa vez com interesse.
- Ele quem?
- Sabe do que estou falando.
-Você viu o anjo?
- Não é anjo nenhum! Ele mesmo me disse que não era.
- Ele “falou” com você? - puxou-o pelo braço assustada.
- Sim, você nunca falou com ele?
Alícia entristeceu o olhar, baixou-o até parecer
perder-se nos pensamentos, então prosseguiu:
- Eu nunca o ouvi, ele gesticula, parece falar, mas eu
não o ouço, sempre foi assim, desde pequena. Ele está distante, nunca consegue
chegar até mim...
- Eu o toquei!
- ela voltou-se para Andrey indignada com as informações.
- Como assim!? Por que você esteve tão próximo e eu não?
- Eu não sei! Estou exatamente querendo saber.
- O que ele disse à você?
- Falou sobre Missão... Missão Gaia...
- Dharmim?
- Isso! Dharmim Gaia! Como sabe se disse que jamais se
falaram?
- Eu leio. Ele escreve no céu pra mim.
- Como?
- Não me faça perguntas que não sei responder. Apenas
escreve coisas sem sentido, aparecem no céu pra mim.
- Alguém sabe sobre tudo isso?
- Não! A inquisição nos queimaria! Diriam que estamos
possuídos de demônios!
- E se for? E se esse ser for um anjo caído? Como as
escrituras dizem?
- Não, ele é um anjo. Um anjo do bem, você não sente
paz quando ele está perto?
- Sim, tanta paz que não queria voltar de lá.
- Você foi pra onde?
- Quero dizer, acho que fui, parecia um lugar
diferente. Ele saiu de uma carruagem estranha, parecia uma caixa de ferro.
- Sim, e chamas azuis o queimavam sem consumi-lo não é?
- Sim! Exatamente.
- Meu Deus! Até que enfim alguém para eu ter a certeza
de que não sou uma louca.
- Ele disse algo sobre essa missão, e de que eu e
muitos outros tem que cumpri-la, sendo que se um sequer deixar de fazê-la, a
missão estará comprometida.
- Eu nunca li nada sobre isso, eu li algo certa vez
nos céus como “Alan e Nyan”.
- Não falou sobre isso comigo, foi tudo muito lento,
parece que passei dias lá com ele, mas foi apenas num sonho.
- Não foi um sonho, vocês estiveram juntos. E fico
mais tranquila agora em falar com você. Após tantos e tantos anos, encontrei
quem me compreenda. – sorriu pela
primeira vez ao rapaz que retribuiu no mesmo gesto.
[...]
Escritora Tereza Reche